Desenvolvedora: Slightly Mad Studios
Distribuidora: Electronic Arts
Data de Laçamento: 29 de Março de 2011
Notas:
Visual: Nota 86
Jogabilidade: Nota 89
Áudio: Nota 98
Diversão: Nota 90
Nota Final: 85
Na traseira de Gran Turismo e Forza
Criada
em 1994, a série Need for Speed é uma das franquias mais bem sucedidas
da história dos games. Após dominar as duas gerações anteriores de
consoles e lançar games que se expandiram das pistas convencionais para
invadir os circuitos ilegais e a fuga da polícia, a série da Electronic
Arts passou por maus bocados na atual geração.
Ao longo de suas
modificações, a série parecia ter perdido seu rumo, passando a dar mais
atenção ao visual e à jogabilidade do que ao mote principal do game.
Após tantas iterações, a Electronic Arts parecia ter se esquecido do
tema central de qualquer jogo de corrida: a necessidade de velocidade
que, inclusive, está no título do jogo.
Ao mesmo tempo em que
Need for Speed derrapava, Gran Turismo e Forza Motorsport se consagravam
como líderes principais nessa corrida e, a cada nova versão, competiam
pelo primeiro lugar no pódio. Ambos tentam transportar de forma mais
fiel possível a sensação de se pilotar um carro de verdade, e se
distanciam do estilo arcade visto nos primeiro games de Need for Speed.
Com Need for Speed SHIFT 2: Unleashed, a Electronic
Arts tem como um de seus objetivos recuperar o antigo prestígio da
franquia. A segunda meta, bem mais audaciosa, é brigar de igual para
igual com Gran Turismo e Forza Motorsport pelo título de campeão dos
simuladores de pilotagem. Temos adversários de respeito na pista, que
seja dada a largada!
Aprovado
Polimento à cera
Logo
de início, o game apresenta ao jogador uma belíssima cutscene, que
mistura animação com imagens reais. Em diversos momentos, é complicado
distinguir a diferença entre as duas, devido à edição muito bem feita e
ao alto nível gráfico do vídeo. A mesma qualidade se repete nas demais
cenas de corte do game, que servem como interlúdio entre as provas.
Infelizmente,
o mesmo alto nível não está presente nas corridas, mas isso não
significa que o game possua gráficos ruins. Pelo contrário, um dos
grandes méritos de SHIFT 2 está nos efeitos visuais, principalmente no
reflexo dos elementos do ambiente nas peças metálicas do veículo.
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Antes
mesmo do início das corridas, já é possível observar com clareza os
mecânicos, repórteres e modelos de circuito refletidos no capô. Durante o
percurso, o céu é reproduzido de forma perfeita na lataria, fundindo-se
com a pintura e resultando em um visual impressionante. O mesmo vale
para outros efeitos do ambiente, como o sol, que praticamente cega o
motorista quando bate diretamente nos olhos dele, e a luz dos faróis,
que iluminam o caminho à frente de forma realista e também têm sua luz
rebatida na traseira dos oponentes.
Estas características se
mostram ainda mais presentes quando o jogador decide assistir a um
replay ou utilizar o Photo Mode para tirar fotografias dos veículos.
Nesses momentos, o poderio utilizado para processar todos os elementos
das corridas, como o comportamento dos outros pilotos, por exemplo, é
totalmente concentrado na parte visual. Aqui, SHIFT 2 não faz feio em
relação a seus concorrentes maiores.
Apenas aquilo que importa
Uma
das grandes críticas da desenvolvedora Slightly Mad Studios em relação a
Gran Turismo e Forza dizia respeito à quantidade esmagadora de veículos
presentes nos dois títulos. Apesar de centenas de veículos serem um
prato cheio para os amantes da velocidade, apenas algumas dezenas desse
total apresentavam reais condições de competição, enquanto outros são
destinados a eventos específicos ou servem apenas como itens de coleção,
dificilmente sendo levados às pistas.
SHIFT 2 diminui muito o
cardápio de carros, mas apresenta apenas veículos com capacidade
suficiente para competir nas pistas. Isso significa que mesmo carros
obtidos nos primeiros níveis de jogo podem ser páreo nas corridas mais
avançadas, desde que as melhorias corretas sejam aplicadas.
Dificilmente
o jogador se verá obrigado a adquirir um novo veículo para conseguir
vencer uma corrida. Pelo contrário, o game se concentra mais em permitir
uma customização total do veículo do que incentivar a criação de uma
garagem repleta de modelos. Assim, é possível se preocupar apenas com
aquilo que realmente importa em um jogo de corrida: pilotar.
Machucando o muro
Apesar
da velocidade ser o principal motor das provas de velocidade, são os
grandes acidentes que entram para a história e são lembrados por anos e
anos. A Electronic Arts pensou com carinho nesse quesito e, em SHIFT 2,
traz uma série de maneiras de transformar os belos modelos que passeiam
pelas pistas em pilhas de sucata.
As colisões fazem o jogador
pensar, inclusive, que o título funcionaria muito bem com efeitos 3D,
tamanha a quantidade de peças, parafusos e estilhaços que voam para
todos os lados após uma batida. A lataria também corresponde de forma
realista, ficando amassada e completamente destruída.
O
game também sofre influência de um gênero bem diferente: o FPS. Após
uma colisão, a visão do motorista fica embaçada e em preto e branco, de
forma a refletir uma perda de sentidos momentânea, resultante da batida.
Apesar de ser possível continuar correndo normalmente durante esse
período, não espere estar completamente ciente de tudo que acontece a
seu redor.
Personalizando a carteira de habilitação
Como
em todo jogo de simulação, SHIFT 2: Unleashed conta com opções
completas para personalização da pilotagem. Isso significa que ao mesmo
tempo em que privilegiou aqueles que desejam uma representação real do
que é estar no volante, a Electronic Arts não se esqueceu dos que
preferem uma experiência mais casual e desejam apenas dirigir e chegar
em primeiro, sem se preocupar com aspectos mais técnicos da direção.
Desde
o início do game, é possível escolher detalhadamente as opções de
dificuldade e estilo de pilotagem. Isso significa habilitar (ou não) um
assistente que indica o melhor percurso a ser seguido, controles
avançados de tração e até mesmo freio automático, de forma a facilitar a
realização das curvas mais complicadas.
A mesma coisa vale para o
seletor de dificuldade dos adversários, que permite definir o quanto
agressivos eles serão durante as provas, e para o dano nos veículos, que
pode ser minimizado apenas para a parte visual ou simplesmente
desligado.
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Com
tantas opções, é possível que o jogador se sinta confuso com tantas
opções para serem ligadas e desligadas. O mesmo vale para os veteranos
de Need for Speed que, apesar de conhecerem os games anteriores, não
sabem até que ponto serão capazes de dirigir como profissionais.
Pensando
nisso, a EA incluiu um sistema que define automaticamente as opções de
acordo com o desempenho dos pilotos nas duas primeiras corridas. A
primeira, apenas para tomada de tempo, serve para definir a configuração
dos assistentes de pilotagem. Já a segunda é contra adversários de
todos os níveis presentes no jogo e define qual a melhor opção de
inteligência artificial para você.
Apenas correr não é o bastante
Se
engana quem pensa que um game de corrida se resume apenas a sair da
linha de chegada e chegar ao final da prova em primeiro lugar. Um dos
maiores méritos da franquia Need for Speed foi provar que a velocidade
pode ter as mais variadas nuances, e isso permanece como um dos pontos
fundamentais de SHIFT 2.
Apesar da maioria das provas se resumir a
chegar em primeiro ou apenas obter uma boa colocação, as recompensas
resultantes podem variar. Algumas corridas garantem mais dinheiro,
outras habilitam novas opções de cores enquanto um terceiro tipo, mais
raro, dá ao jogador um novo carro como prêmio. Além disso, algumas
provas consistem em correr sozinho pelo circuito apenas para tomada de
tempo, com o objetivo de bater um recorde utilizando um veículo
específico.
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A
competição mais empolgante, porém, é a The Eliminator. Nesse
campeonato, o objetivo é ficar na frente a qualquer custo, já que o
último colocado é eliminado a cada 30 segundos de prova. O evento não
tem regras, permitindo que os jogadores utilizem qualquer tipo de
artifício, incluindo jogar sujo, para ser o último piloto restante ao
fim da corrida.
Seguindo adiante
SHIFT
2 conta também com um sistema de experiência que independe do tipo de
prova escolhida. Todas valem pontos que permitem ao piloto escalar seu
nível, habilitando novas categorias de disputas e diferentes carros para
compra. Para obter XP extra, o jogador também pode completar objetivos
especiais, como permanecer no melhor traçado, evitar colisões durante
toda uma volta ou realizar curvas perfeitas. De forma geral, essa
funcionalidade amplia e muito o fator replay do título.
Outro
aspecto que promete expandir a experiência com o título é o Autolog,
espécie de rede social exclusiva para os usuários do título. Por ela, é
possível compartilhar fotos dos carros e vídeos dos momentos mais
emocionantes das partidas, bem como receber sugestões ou indicar eventos
especiais para os parceiros de velocidade. Também é possível baixar
“carros fantasmas” para competir por recordes e conferir os melhores
pilotos do mundo por meio dos rankings online.
Alta fidelidade
A
proposta de realismo citada pela Electronic Arts durante o
desenvolvimento de SHIFT 2 se reflete também nas pistas. Apesar de
contar com circuitos fictícios, mas inspirados em cenários reais (como é
o caso da prova que se passa no porto de Tóquio), a grande maioria das
provas se passa em cartões postais do mundo da velocidade.
Circuitos
reais, como Spa Francorchamps, na Bélgica, Suzuka, no Japão, ou Monza,
na Itália, foram reconstruídos com perfeição. Quem acompanha o Mundial
de Fórmula 1, por exemplo, vai se sentir em casa nas réplicas digitais.
O
mesmo vale para a reprodução dos veículos e, principalmente, do ronco
dos motores. Os carros de SHIFT 2 se comportam exatamente como os
modelos reais, possuem partes internas fidedignas e, acima de tudo,
roncam como carros de verdade. Com o uso de um sistema de som de
qualidade ou de bons fones de ouvido, é impossível não ficar
impressionado com a qualidade do áudio.
Reprovado
Realismo até certo ponto
Need
for Speed SHIFT 2: Unleashed veio ao mundo para brigar com Forza e Gran
Turismo. Isso significa, então, um investimento elevado no realismo e
na real sensação de se pilotar um carro em alta velocidade. Apesar do
game realizar um ótimo trabalho no primeiro quesito, não leva o primeiro
às últimas consequências.
A evidência mais gritante dessa
“realidade pela metade” está no tão alardeado sistema de colisões.
Imagine-se dirigindo em alta velocidade e dar de encontro com um muro,
despedaçando completamente o veículo. Isso inclui rodas se desprendendo
do eixo, e um motor completamente destruído pelo impacto frontal.
E
veja que, como no vídeo acima, o carro se reconstituiu como mágica logo
após a batida, ficando novamente em condições de prosseguir na corrida.
Todo o dano físico, perceptível na lataria do carro e também nos sons
do veículo, com o motor engasgado e caixa de marchas defeituosa, não se
reflete em desempenho. Ou seja, você ainda terá condições de correr na
velocidade máxima e vencer a disputa, mesmo após passar por uma
capotagem que acabou totalmente com seu veículo.
Danos reais são
habilitados apenas nos níveis mais altos de jogo. Apesar dessa ser mais
uma daquelas opções que tem como objetivo facilitar a vida dos novatos,
não há razão para que a função não esteja disponível desde o início.
Outro
ponto que pode ser considerado parte dessa “fuga de realidade” da EA
diz respeito à completa ausência de clima dinâmico no game. Em SHIFT 2,
todos os dias são de sol, e todas as noites são de completa escuridão.
Não existem provas disputadas na chuva, assim como o tempo nunca fica
nublado e, durante a noite, nem mesmo a lua comparece para combater o
breu.
As
corridas noturnas, que normalmente são promessa de belas imagens, são
um dos pontos fracos de SHIFT 2. Nesses momentos, a única fonte de
iluminação disponível no circuito são os faróis do próprio veículo, e
todos os holofotes e outras fontes de luz disponíveis no próprio
circuito estão desligadas. Quem acompanha o mundo da velocidade sabe
que, na realidade, as provas durante a noite são tão claras quanto as
diurnas.
Eu estou correndo ou andando?
Outra
falha grave se relaciona à sensação de velocidade proporcionada pelo
game: ela é quase nula. Mesmo correndo a mais de 150 km/h, a impressão é
de que não se está indo tão rápido assim, com elementos de cenário e
outros veículos passando muito pouco rapidamente por você.
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O
game tenta resolver esse problema por meio da aplicação de um efeito de
desfoque, que surge quando o jogador ultrapassa um certo nível de
velocidade. O artifício, porém, contribui muito pouco para o fim
proposto e, pelo contrário, atribui um aspecto falso à experiência de
pilotar, já que o alvo do blur é o painel do carro e não os elementos da
pista.
Por incrível que pareça, a sensação de velocidade só é
passada da forma devida em uma das cinco câmeras disponíveis no game: a
visão de cima do capô. Essa, porém, não é a opção padrão do título e nem
a preferida da maioria dos jogadores.
Se é possível complicar, para que simplificar?
Apesar
de possuir diversas opções para facilitar a experiência dos não
iniciados no volante, SHIFT 2 também não vai até às últimas
consequências nesse aspecto. Enquanto algumas configurações, como a de
upgrade de veículos ou de seleção de dificuldade são extremamente
simples, outras são inexplicavelmente complexas.
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Um
exemplo claro disso é a modificação de cores do veículo. Em vez de
optar por indicações visuais dos tons disponíveis, a EA preferiu seguir
com um sistema de barras, que produzem as cores por meio de uma mistura
dos níveis de saturação, contraste e brilho. Apesar de agradar os
puristas, a decisão deve dificultar o trabalho daqueles que querem
apenas um tom básico para o carro.
Também é inexplicável a
ausência de uma opção flashback, que permite voltar no tempo em alguns
segundos, e corrigir um erro que pode ser crucial para a definição de
posições em uma corrida. A EA retirou a função, disponível na maioria
dos jogos do gênero, para atender ao pedido dos fanáticos por
simuladores. É frustrante, porém, se ver obrigado a reiniciar uma prova
com quase uma dezena de voltas devido a uma desatenção na última curva.
Vale a pena?
Sem
sombra de dúvida, SHIFT 2: Unleashed é o melhor jogo da franquia Need
for Speed e, sem dúvida, responsável por trazer de volta o antigo brilho
da série da Electronic Arts. Com uma mistura de belos gráficos, bons
carros e pistas fieis à realidade, também pode ser considerado como
sério candidato para jogo de corrida do ano.
O título, apesar de
seus poucos problemas, ainda tem muito a melhorar para constituir um
rival de respeito a Gran Turismo e Forza Motorsport. SHIFT 2 pode ser
encaixado com mais conforto na categoria arcade, e terá um pouco de
dificuldade para ser considerado um simulador de respeito.
Enquanto
as franquias da Microsoft e Sony disputam a cada milímetro pelo
primeiro lugar no ranking, SHIFT 2 pode, no máximo, buscar a terceira
colocação. A EA e a Slightly Mad, contudo, estão no caminho certo, e se
souberem corrigir os erros cometidos, podemos criar desde já grandes
expectativas para o terceiro episódio da franquia.